O que mudou nas relações Brasil-EUA após um mês de tarifaço
- Quais foram os principais efeitos observados na economia brasileira após um mês do tarifaço comercial dos Estados Unidos? Quais são os setores mais afetados até agora?
Após um mês de tarifaço tivemos um impacto menor dado o que era esperado nos setores que geraram mais estresse no início da medida. Continuamos vendendo toneladas de carne para os EUA, porém a preços maiores. Entretanto, a situação seria totalmente diferente se não tivéssemos a lista de ativos que ficaram de fora do aumento de tarifas, como é o caso do suco de laranja. Ainda assim, setores como o de pedras não conseguiu achar alternativas e sofre com as tarifações, sem uma luz no fim do túnel da situação atual. Já nos EUA, o impacto das tarifas já pode ser sentido no cotidiano.
- Como essa medida afetou as relações diplomáticas entre Brasil e EUA?
A relação entre o Brasil e os EUA vem se deteriorando a cada dia que passa. Após o anúncio das tarifas, em vez de negociarmos, ambos os governos têm ido por linhas mais agressivas, recorrendo a cortes globais e olhando possíveis retaliações. A guerra comercial atual não irá gerar vantagens para nenhum país.
- O tarifaço enfraqueceu a posição do Brasil em negociações internacionais?
O enfraquecimento é certo. Uma vez que o Brasil está em busca de novos mercados de forma mais agressiva após o tarifaço, e os demais países sabem disso, gera-se uma oportunidade para que se consiga condições menos oportunas para o Brasil.
- Além do impacto direto no comércio, o tarifaço pode afetar cadeias produtivas internas (indústrias que dependem de insumos exportados para os EUA)?
Caso não tenhamos uma reversão, a perda de empregos deve gerar um efeito cascata de redução do consumo. Como estamos em uma economia com juros elevados, o que reduz a atividade econômica, não devemos ter realocação de funcionários dos setores afetados de forma rápida, impactando no desemprego, pelo menos no curto prazo.
- Já se observa movimento de empresas brasileiras redirecionando exportações para outros mercados?
Existe uma tentativa de formar novas parcerias econômicas das empresas com outros players globais, porém, essas parcerias não são facilmente organizadas. As negociações devem durar algumas semanas até termos resultados mais práticos e saber efetivamente se conseguiremos ter parceiros que façam jus a pelo menos parte da demanda estadunidenses.
- Como o tarifaço muda a percepção de risco do investidor estrangeiro em relação ao Brasil?
Apesar de prejudicar o curto prazo, não é a principal questão que o investidor institucional estrangeiro está observando. A economia brasileira ainda apresenta múltiplos de ações baratas para os patamares estrangeiros, e, conforme se chega mais próximo das eleições brasileiras, devemos ter mais posições sendo montadas buscando um horizonte de 2027.
- Se o tarifaço persistir por mais de um ano, qual seria o impacto estrutural na economia brasileira?
Caso o tarifaço se prorrogue por muitos meses, a economia brasileira precisará encontrar outros compradores nos mesmos volumes e preços negociados pelos EUA, se não teremos uma perda grande de empregos em toda extensão do território brasileiro. Apesar de sermos uma economia considerada fechada, o motor rural depende das exportações para continuar se sustentando. Como o nível de alavancagem do setor está elevado e estamos tendo diversos problemas de não pagamento no segmento, o ramo agrícola não aguenta a perda de um de seus principais clientes no médio prazo.
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